quinta-feira, 25 de março de 2010

Instituição para jovens infratores no Japão


Muito obrigada pelos comentários no post anterior sobre crianças no Japão. Antes de escrever sobre a experiência com meu filho, gostaria de escrever sobre os reformatórios, ou as FEBEMs do Japão. Talvez esse post deixe vocês tristes, mas é a realidade e se servir de alerta, será algo positivo.

Aqui os reformatórios para jovens se chamam Shonen-in. Traduziria como instituição para jovens ou adolescentes, acho que não há tradução exata. Reformatório também não é adequado porque dá uma conotação ocidental e muito antiga. Também é diferente das aFEBEMs do Brasil. Por isso neste texto chamarei de shonen-in.

Os shonen-ins do Japão são mais parecidos com prisões para adultos. Tendo em vista que as prisões daqui são limpas, organizadas e a disciplina é extremamente rígida. Os shonen-ins são adaptados para reintroduzir os jovens na sociedade japonesa.


Esta foto acima vem da mesma matéria do jornal do post anterior.
Traduzindo está escrito: Aprendi o idioma japonês no shonen-in

Sempre pensei que os shonen-ins fossem para adolescentes de até 18 anos, mas aqui contam a história de um rapaz brasileiro de 19 anos.

No shonen-in de Kanagawa-ken, Yokosuka, Kurihama, ele frequenta as aulas de japonês junto com outros 5 brasileiros, 1 boliviano e 4 filipinos internos.

Ele chegou ao Japão com 12 anos para viver com seu pai dekassêgui. Foi à escola mas não entendia nada e largou a escola depois de 8 meses. Retornou ao Brasil, depois voltou de novo ao Japão com 15 anos. Começou a trabalhar numa fábrica de auto-peças e vivia sozinho.

Em 2008 convidado por amigos nikkeis (brasileiros descendentes de japoneses), começou a roubar GPS de dentro dos carros quebrando os vidros. Foi pego depois de 1 ano e enviado ao shonen-in.

Ali o rapaz começou a aprender japonês. O shonen-in de Kurihama é o único do país que ensina japonês aos internos. Essa inciativa começou em 1993 quando os diretores perceberam que os jovens estrangeiros deveriam aprender japonês para se integrarem à sociedade. Senão, quando soltos, poderiam voltam a cometer os mesmos delitos.

Fiquei chocada: dos 300 estrangeiros que passaram pela instituição, 80% eram brasileiros.


Na foto acima , o rapaz escreve seu diário em japonês. Já consegue escrever kanjis.
Quando chegou, o rapaz só sabia dizer: Kon-niti-wa (boa tarde), Kon-ban-wa (boa noite) em japonês.
Com as aulas, em menos de um ano, já consegue falar e escrever kanjis até a sexta série.
A professora voluntária disse: "Fico com tanta pena, será que não ensinaram direito na escola?"

Com 285 dias no shonen-in ele escreveu em japonês: "Quero ajudar meu pai. A família é muito importante para mim. Minha vida começa agora."

Anos atrás, li uma reportagem sobre uma diretora da FEBEM no Brasil. Dizia ela: "Não entendo como possam existir tantos brasileiros descendentes de japoneses nos shonen-ins do Japão. Aqui na Febem de São Paulo, temos centenas de internos mas nenhum sequer descendente de japoneses."
Este fato é triste e preocupante.


Gostaria de contar sobre como meu filho aprendeu português e japonês num outro post.

Mas nem tudo são tristezas e o Alexandre Mauj fez um post excelente sobre crianças brasileiras morando no exterior no seu blog Lost in Japan.
Aqui está o link:




28 comentários:

Unknown disse...

Adoro seu blog, sempre com coisas interessantes sobre o Japao.

Anônimo disse...

Elisa , mesmo sendo triste pelo menso a realidade do Japão é bem melhor que a do Brasil nesse sentido. Aqui dificilmente alguém se torna gente dentro de um presidio. Ai ainda tem essas esperança apesar de tudo.
um abraço !!!!!

Farofa de Batata =] disse...

Prontinhu seu post está no ar, espero que goste da surpresa, ñ tão surpresa mas feita com mto carinho ^^ hihi

Infelizmente existem seres que só andam pra frente depois de punição, espero que um dia ñ precisemos de febens e nem nada do estilo....

Ótima Quinta Eli!! (posso lhe chamar assim?)

Miquilisss
Bru

Cris disse...

Oi Elisa. Obrigada pela sua visita no meu singelo blog, eu nao sabia que tinha como adaptar o computador japones pra colocar acento e o cedilha, se puder me ajudar nisso agradeco pois e muito ruim ficar digitando sem acento, o texto fica bem esquisito. Que bom que encontrei seu blog pq estou adorando os assuntos que vc coloca aqui, mesmo morando no Japao a gente nao sabe de muita coisa que acontece por aqui. Acho que com a crise que afetou o Japao o numero de brasileiros envolvidos em crimes aumentou ne. Bjus e tenha uma otima noite.
www.morishome.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi Elisa! Meu marido me disse que quando um brasileiro cometia algum crime a Tv mostrava ele durante dias! Coitados desses jovens né, mas se estivessem aqui no Brasil acho que não cometeriam crimes assim. A falta de comunicação é um marco na vida deles e isso leva a criminalidade. Talvez se os pais se preocupassem mais em ensinar o idioma antes de arrancar eles da Pátria Amada Brasil, o destino deles seria diferente! Bjs

Desabafando disse...

Muito triste mesmo, mas acho que pelo menos aí no Japão há uma política melhor de resocialização não? Pq até onde eu sei, aqui no Brasil, não há o interesse em educar e resocializar os presos.

Anônimo disse...

Boa noite ai pra vc Elisa, gostei de saber que nao é so em minas q se come banana verde assim, des de criança conheço este tipo de prato, as da foto foi eu que fiz sim, eu nao uso a banana da terra pois fica grande de diametro, uso mais a nanica que nao é bem nanica e sim comprida e redondinha! bjs!

Anônimo disse...

ps: depois volto pra ler sua postagem com calma, tenho q resolver algumas coisinhas.

N. Rodrigues disse...

Um texto super informativo e muito bem-escrito parabéns!

Kiyomi disse...

Boa noite, Elisa! Sobre o Shonen-in eu tinha ouvido falar (e como) pois no meu antigo serviço tinha uma amiga minha que vivia indo para lá ajudar alguns jovens conhecidos dela a "criarem vergonha na cara e ser gente". Sem falar que depois que eles saíam, ela vivia dando conselhos pra eles. Resultado: a maioria deles voltaram a estudar, procuraram emprego e agora estão bem.
Muita gente nunca ouviu falar do Shonen-in. Como disse Alexandre, é muito raro a imprensa dar foco sobre isso (se bem que uma das novelas que assisti - "Aishiteru" - aborda o tema).
Beijo, Elisa! Tudo de bom!

Anônimo disse...

É complicadissima esta situaçao mesmo, a pessoa nao sabe ler, nem entender, nem escrever e muito menos falar, se nao tem boa cabeça e influencias negativas muito provavelmente partira para outros caminhos... gostei da atitude deste reformatorio em ensinar o Japones,

Elisa reformatorio, nao seria aqueles lugares que familias ricas mandam os filhos bagunceiros? pois ja vi em um seriado gossip girl chamar assim estes lugares,

abraços!

Mônica disse...

Elisa
Que pena que há jovens brasileiros aí no Japão necessitando tendo problemas.
Os daqui não tem diferença. Mas ficam pelas ruas se mensores porque a maioria não podem ser presos por causa do estatuto.
Com carinho Monica

Fabiana disse...

Oi Elisa,
Depois de umas longas férias, estou de volta(mas ainda sim, deixando posts programados...kkkkk).
Estou sempre dando uma olhadinha em todos os blogs, inclusive o seu.
E hoje, arrumei um tempo para postar um comentário.
E que matéria, hein?
Muito triste!
Fiquei sabendo por um amigo, que mora em Tsurumi, que ele conhecia muitos brasileiros que eram viciados em drogas, alguns se perderam de vez....
Ainda que no Japão, eles se preocupam com esses jovens.
Imagine aqui no Brasil....realidade muito triste!

minhacasaeumaviagem.blogspot.com disse...

OI Elisa,
adoro o seu blog, aqui eu me sinto super informada rs
bjokas

Paulo Celso disse...

Olá quero agradecer o carinho. Estava zapiando por blogs quando encontrei o seu, parei li e gostei.
Um grande abraço

Aninha disse...

OI Elisa,

apesar de triste, é muito bom saber que existem esses shonen-in.
é algo que não existe no Brasil mas deveria ser pensado.
aqui, as Febens pioram o estado de qualquer ser humano, uma tristeza.

besosss

Elisa no blog disse...

CAROL,
Obrigada pela visita e pelo elogio, volte sempre.

DIEGO,
Sim, aqui realmente a função das prisões é regenerar os presos. Os shonen-ins de jovens também. Muitos jovens saem regenerados de verdade.

MAUJ,
Estarei aguardando seu post sobre o relato desse jovem que passou por shonen-in daqui do Japão. Gostaria de saber se é muito kibishii, se são bem tratados, o que comem, se fazem amizades lá dentro.

BRU,
Vc tem razão, tem gente que só vai pra frente com punição. Mas é bom essa gente perceber que o crime não compensa, né? Adorei o post que vc fez, que bela homenagem, fiquei hiper contente.

CRIS,
Pretendo fazer um post sobre o assunto, mas se vc tiver pressa, por favor me escreva para o e-mail que está perto do meu perfil, na primeira página do blog. Daí posso te passar antes sobre como colocar acentos no computador japonês, OK?

minhacasaeumaviagem.blogspot.com disse...

Quem me dera saber fazer aquelas coisas fofas, eu peguei no fickr, o link está lá no post.
O meu Neko está bem, está lá com a minha mãe.
Ela é só elogios p ele, mas eu sei q ele é bem sapeca rs
EStou c tanta saudades q até sonho c ele :(
bjos

Elisa no blog disse...

DIANA,
Tenho a impressão que a mídia japonesa tem discernimento ao mostrar crimes de brasileiros. Crimes de brasileiros ficam dias na mídia, mas crimes de japoneses também.

DESABAFANDO,
Mais do que isso, acho que as cadeias japonesas tentam regenerar o preso, tanto adultos quanto jovens. Eles tentam mudar os valores da pessoa. Tentam mostrar que o crime não compensa e que ela será mais feliz sendo um cidadão de bem. Tentam mudar os valores da pessoa e para isso evocam muito o bem da família.
Tem um quê de autoritarismo, no sentido de tentarem forçar o indivíduo a serem honestos e corretos. Mas é tudo pelo bem da sociedade.

FABIANO,
Sim, já comi essa banana até no Japão. Minha amiga colombiana cortava de lado de comprido, então ficavam uns chips bem compridos, uma delícia.

NICOLE,
Obrigada pelo elogio, fico muito contente.

KIYOMI,
Sua amiga é muito legal por fazer isso. Eles permitiam a entrada de uma pessoa não parente? Também já vi algumas novelas japonesas sobre shonen-in. Mas não sei se é daquele jeito de verdade.
Será? Vc sabe?

Angela disse...

Elisa,
Lamento que o nosso Brasil sendo um país tão rico não tenha pessoas bem intencionadas na política para mudar de vez a nossa história para que possamos viver descentemente, com salários dignos para prover uma família sem precisar que brasileiros deixem sua pátria a caminho de sonhos mtas vezes frustrados. Esses adolescentes infratores ou viciados são vítimas de uma sociedade egoísta e cruel. Aí ou aqui o motivo que os levaram a transgressão deve ter sido a carência, o medo do desconhecido e a falta de indentidade. Qdo mudamos de país, muda-se tudo em nossas vidas e perde-se um pouco do chão.
Bjs

Unknown disse...

Ai amiga q história tristinha né?

mas to passando pra deixar um mega beijo e dizer q estou com saudades rsss

bom domingo flor!

mika disse...

Oi. Cai aqui por acaso e gostei muito do seu blog. Moro no Japao tambem, mas nao consigo ler jornais em japones. Havia visto uma reportagem sobre esse tema em um jornal em ingles, ha algum tempo.

Estou esperando o post sobre seu filho. Minha menina tem 2 anos, ainda fala muito pouco, mas acredito que sua primeira lingua sera o japones.

Dei uma passeada pelo seu blog e fiquei encantada. Quantas viagens maravilhosas! Depois vou revirar seus arquivos.

Um abraco

Bah disse...

Apesar de ser bem triste, ainda é melhor estar num reformatório no Japão do que estar numa Febem no Brasil. Ai as crianças realmente têm chances de ter uma segunda chance. Aqui as crianças ficam piores, se não passam para a cadeia ao lado. Muito triste, porém, ainda estamos engatinhando com esse lance de jsutiça e direitos humanos.

Kisu!

Elisa no blog disse...

MÔNICA,
Aqui ou no Brasil acho a situação muito triste.

FABIANA,
Que bom, vc voltou. Tenho visto as receitas deliciosas do seu blog. Em Tsurumi acho que a situação de muitos brasileiros é muito difícil.

DEA,
Também adoro o seu, me sinto pra cima por causa do seu alto astral.
Agora entendi, o neko está no Brasil com a sua mãe. Ele se adaptou bem?

PAULO CELSO,
Pois então, volte sempre. Será sempre bem-vindo. Às vezes falo sobre budismo. Gosto muito dos templos, da filosofia e das estátuas budistas.

Elisa no blog disse...

ANINHA,
Vc teve uma ideia, proposta interessante. Poderiam fazer uma FEBEM melhor, diferente que recupere os jovens.

ÂNGELA,
Acho que vc acertou, é isso mesmo. Mudando de país e tendo menos atenção, muitos jovens caem na delinquencia. As pessoas vêm ao Japão com o sonho de ganhar dinheiro mas acabam perdendo os fílhos para o vício, crime, drogas. É muito triste.

PEQUENA,
Também estava com saudade. Já saiu o casório?

MIKA,
Seja muito bem-vinda. Vc pode falar português com sua filha, assim ela poderá aprender. Fico contente que esteja lendo meus posts passados.

ROMINA,
Não sei a porcentagem, mas aqui vemos que muitos jovens realmente melhoram. Muitas vezes encontram lá a educação, atenção e dedicação que não tiveram com os pais. Escolhem os melhores profissionais para a tarefa de reeducar os jovens.

Kiyomi disse...

Elisa, essa minha amiga ia até lá porque os pais tinham muita, mas muita vergonha de irem. Ela disse-me que os meninos voltavam renovados, aprendiam bem japonês e aprenderam a lição. Hoje, ela disse-me, a maioria trabalha e até constituiu família!
Uma das novelas que assisti e fala um pouco do Shonen-in, foi a do ano passado "Aishiteru". Mas desconheço se seria dessa forma que apresenta.

Beijo, Elisa!

Anônimo disse...

Aqui no Brasil a situação é bem diferente, muito se fala nas instituições que abrigam adolescentes infratores as antigas (Febems), (aqui no Brasil, é assim quando algo não dá certo é mais fácil e menos doloroso mudar o nome) hoje Fundação CASA, mas como sempre nos esquecemos dos seguintes contextos: Família, condições sociais, recreativas, educacional, psicológico e econômico a que este jovem está inserido. Muitas pessoas dizem, até por total desconhecimento a ”Fundação não habilita ninguém”, dentro das unidades eles são muito bem assistidos sendo, ele tem 5 refeições diárias, banho 3 vezes ao dia, aulas, capoeira, street dance, cursos de jardinagem, padaria, hidráulica e elétrica, atividades artísticas, tratamento médico, odontológico e consulta com psicólogos e assistentes sociais. – Pergunto e quando o adolescente ali internado, não mostra nenhum interesse em sua melhora pessoal, (ele não quer saber de aula, não faz nada, chinga, provoca e até agride o corpo funcional. Às ONGs de plantão eu pergunto o que fazer, quando este mesmo interno sair da Fundação e voltar para casa e encontrar a família na favela passando fome, necessidades, sem perspectivas na vida , não sejamos idiotas o que é que esta adolescente irá fazer ? O que sempre ou quase sempre fez para seu sustento e da família (roubo, tráfico, seqüestro e outros tipos de crime). Outros se preocupam com o futuro da nação, temos de investir hoje na criança, adolescente que será o homem de amanhã, mas e as vítimas destes mesmos celerados, como ficam ONGs e autoridades. Para tentarmos mudar um pouco o que está ai em nossa cara, há de se ter total envolvimento da sociedade, autoridades federais, estaduais e municipais, profissionais e a própria família do adolescente... Lembrando que criticar é fácil, levantar o bumbum da cadeira e fazer a roda girar este é o complicado!..

ELS disse...

Elisa! Também me chamo Elisa! Bom, amei o seu blog.
Sabe, você comentou que as prisões no Japão são limpas e organizadas, mas pense no numero de presos... é muito menor não? Isso porque que eu saiba, no Brasil, se a vida está horrível os jovens começam a roubar.
Mas não no Japão, se a vida está horível roubar vai manchar a honrra da sua família.. Então os jovens se trancam em casa... se suicidam...
Acredito que as prisões estejam tão cheias de brasileiros por causa da cultura que não permite aos jovens Japoneses cometerem delitos com tanta facilidade.
Existem muitas coisas que precisam ser melhoradas nas prisões brasileiras mas acho que prefiro a nossa realidade à realidade de suicídios do Japão.
Com todo respeito
Elisa

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