Adendo: se a leitora Mika que tem uma filha de dois anos estiver lendo,
gostaria de responder as perguntas por e-mail.
Meu e-mail é bom.pink1@gmail.com
que está tb do lado direito, perto do meu perfil.
Chegou a época do sakurá, flores de cerejeira no Japão.
Esse tipo floresce antes do tipo cor-de-rosa mais clarinho.
Tirei essas fotos num parque perto de casa.
Gosto delas assim de perto também.
Mas esse ano continua muito frio, ontem até nevou
um pouquinho em Yokohama.
O texto de hoje é um pouco longo, mas peço para lerem com cuidado. Principalmente se vc mora no Japão e tem filhos pequenos. Pode ir lendo aos poucos, ler outros blogs e voltar.
A primeira foi uma francesa casada com japonês. O filho dela na época tinha 5 anos e essa mãe falava só francês com ele. Perguntei como e porque ela fazia isso. Ela respondeu que não tem com quem falar francês no Japão, então fala com o filho, assim ele vai aprendendo. Era uma gracinha, falava francês. Minha impressão: falando uma língua em casa, no caso dela francês, a criança aprende e fala, mesmo que seja só ela a falar francês. Conclusão: achei que poderia fazer o mesmo com o português quando tivesse filho.
A segunda foi a seguinte: uma família de descendentes de japoneses que conheci aqui o Japão.
Tinha avó, mãe e um filho de 10 anos. A mãe não falava bem japonês, mas o filho era fluentíssimo.
Na escola dele me contaram que ele veio pequeno para o Japão e estudou a vida toda em escola japonesa. Daí tirei a conclusão de que independente da língua que se fala em casa, se estiver frequentando escola japonesa, a criança vai falar bem japonês.
A partir daqui começo a contar a experiência que tive com meu filho intercalada com outras ideias. Experiência na qual os dois fatos acima foram muito importantes.
Eu sabia que indo à escola japonesa, meu filho aprenderia japonês naturalmente. Por isso decidi falar somente português com meu filho, desde que ele nasceu. Sempre conversei em português, lia livros infantis em português. Falava brincando para ele: -Para vc eu não sei japonês, só sei português - e me mantive firme.
Hoje ele está com 13 anos. É fluente em japonês e português. Lê, fala e escreve ambas as línguas.
Se eu tivesse falado só japonês em casa ele não teria aprendido português. Eu não queria de jeito nenhum fechar uma porta para o meu filho. Senti que se não ensinasse o português estaria fechando uma porta. Quanto mais línguas souber, acho que será melhor para o seu futuro.
Vejo muitas famílias não-japonesas que só falam japonês com os filhos. Por exemplo: nunca vi nenhuma filipina ensinar a língua deles para os filhos. Mesmo falando mal japonês, só falam japonês. Por outro lado, todas as francesas que conheci sempre falam francês com os filhos. Os americanos e ingleses também sempre falam inglês com os filhos, mesmo vivendo no Japão.
Aqui é uma teoria minha, teoria seria exagerado, mas um pensamento meu: Reparei que as pessoas que tem orgulho do seu país e da sua cultura ensinam a língua para os filhos. Caso dos franceses, americanos e ingleses. Eu também, porque tenho orgulho de ser brasileira, amo e acho linda a língua portuguesa.
Não posso dizer com máxima certeza, mas tenho a impressão que as filipinas tem vergonha do seu país e ao mesmo tempo acham o Japão o máximo, por isso falam só japonês com os filhos.
Acho também que a língua carrega consigo a cultura do país. Se não falasse português com meu filho ele não saberia como é a cultura brasileira. Os brasileirinhos que só falam japonês não sabem como é a cultura do Brasil.
Esse é um caso a parte, mas conheci uma brasileira nissei que demonstrava orgulho por seus filhos só falarem inglês e quase nada de português. Ela falava sorrindo e com muito orgulho que seus filhos não conseguiam se comunicar com os parentes quando iam ao Brasil. Sem comentários.
Peço aos brasileiros que vivem no Japão que pelo menos conversem com seus filhos em português. Senão, um dia vc só vai conseguir falar coisas básicas com ele em japonês. Discussões mais difíceis ou falar de seus sentimentos ficará muito díficil. Falta de tempo não é desculpa. Perceba que vc está tirando uma oportunidade da vida dele. Como será se um dia vc voltar ao Brasil e seu filho não dominar a língua portuguesa? Por outro lado, se pretende viver no Japão, é essencial que vc e seu filho aprendam o japonês. A vida dos dekassêguis tomou outros rumos. O ideal seria aprender ambas as línguas. Sem se esquecer do inglês. Quem não domina o inglês hoje em dia, é um analfabeto em nível mundial. Desculpe a sinceridade, mas quando vc sai do eixo Brasil-Japão essa é a realidade. O inglês ajuda muito a se comunicar com quem quer que seja. Mas o inglês não faz parte da discussão de hoje.
Talvez seja só impressão, mas reparei que pessoas com escolaridade mais alta ensinam mais de duas línguas para os filhos. Já as pessoas de escolaridade mais baixa só ensinam uma. As causas podem ser tão diversas que renderiam um novo post.
No começo talvez eles vão misturar tudo. A idade crítica é 7 anos. As crianças bilingues podem ficar um pouco mais atrasadas que aquelas que só vivem com uma língua. Na classe do meu filho no primeiro ano da escola primária tinha uma americana, um inglês, os 3 não falavam tão bem japonês nem inglês e português quanto crianças da mesma idade com uma só língua. Mas é preciso ter em vista que estão aprendendo duas línguas. Eu tive paciência e segui em frente. Hoje ele é fluente nas duas. Crianças bilingues ficam um pouco mais atrasadas, se atrapalham, mas tendo paciência e com um olhar no futuro, elas terão sucesso. Acho que não é bom desistir só porque estão um pouco atrasados ou confundindo as línguas. Lá pelos 10 anos de idade elas alcançam as outras e podem ir até melhor na escola que os outros. Muitos pais ficam desesperados porque comparam seus filhos aos monoglotas, mas isso não faz muito sentido.
É preciso ter método, acompanhar os estudos, tentar aumentar o vocabulário nas duas línguas, ensinar e aprender brincando. Assim deu certo para mim e meu filho. A maior alegria é poder se comunicar com japoneses e brasileiros da mesma maneira.
Meu filho não tem sotaque de gringo. Isso é estranho porque a maioria das crianças brasileiras ( bilingues ou trilingues) criadas fora do Brasil pegam sim, sotaque de gringo. Pegam vários sotaques: de americano, sueco, alemão, japonês, etc...
Eu até vi um blog muito engraçado.
A família é brasileira e mora há anos nos EUA. Ela mostra um vídeo com o filho de 8 anos que é uma graça e tinha o título de -meu filho fala como gringo (ou coisa parecida)-
Brasileiros que já viram muitos desses casos ficam intrigados e me perguntam como é que eu fiz para meu filho não ter sotaque de gringo. Sinceramente não sei. Muito contato com a língua talvez. Eu posso dizer como fiz para ele ser fluente em português, mas o sotaque não sei. rsrs
Já sei, vou perguntar para ele mesmo.
Conheci uma sansei que morava no Japão e falava só japonês com a filha. Porém essa mãe treinava as sílabas la-le-li-lo-lu com a filha de 8 anos porque elas não existem em japonês. Acho uma forma interessante para minimizar o problema do sotaque de gringo. Para as crianças que moram nos EUA seria bom treinar o ão de pão, São Paulo. Senão eles falarão: sao, pao.
Há muito que gostaria de escrever ainda, mas hoje ficarei por aqui.
Obrigada por chegar até aqui.